sexta-feira, 23 de fevereiro de 2018

Carta do XXI Encontro da REDE BRASILEIRA DE TEATRO DE RUA





XXI Encontro da REDE BRASILEIRA DE TEATRO DE RUA - RBTR
dezembro/2017 - Parelheiros, São Paulo
“A arte não pode ser calada”

Se quem cala consente
Quem fala? Quem sente?
Se cala quem consente 
E consente porque cala. 
Somos calad@s sem consentimento 
Mas sentimento não se cala,
É sentido  
Não falar não faz sentido.
Não consentimos que nos calem à força.
Não estamos sós, somos voz!
A fala que controla  
Amordaça quem não fala,
Mente à gente. Cala mentes;
Controla o que se fala.
É preciso calar quem sempre
dominou o poder da fala, 
Pois só falam os que têm poder.
Nosso poder está em deixar gritar quem nunca pôde falar.
Falas de Poder.  
Poder falar 
E falar não: 
Poder falar de calar o poder.
Quem sempre falou, agora tem que escutar!
Pelo fim da censura e da perseguição de povos indígenas, negr@s, LGBTTs, mulheres, religiões de matrizes africanas, d@s artistas de rua e trabalhador@s da Cultura, população em situação de rua, campones@s e sem terras, refugiad@s, ambulantes, periféric@s e tod@s @s oprimid@s. Que as Margens não se calem e não se deixem ser caladas.

O XXI encontro da RBTR foi realizado em Parelheiros do dia 08 a 11 de Dezembro, na resistência e solidariedade. A princípio deveria acontecer em Osasco com apoio da Secretaria de Cultura local, mas por conta do processo de censura e perseguição aos movimentos culturais de Osasco e demissão do Secretário de Cultura, foi preciso mudar o local do encontro às pressas. Mesmo em meio ao projeto de desmonte das políticas públicas, resistindo ao governo golpista e à atual conjuntura dessa Dita Democracia, realizamos a XII Mostra de Teatro de Rua Lino Rojas, cortejos, debates e o XXI encontro da RBTR com plenárias, rodas de mulheres e espaços de troca e formação.

Resistir, reexistir, resistência
Persistir, permitir, experiência!
Resistimos
Não por justiça, por sobrevivência.
Ansiedade, a ânsia e o anseio pelo novo tempo.
pelo mundo sem dono, sem patrão.
Temos urgência, mas haja paciência!
Em meio a tanta confusão e dúvidas
Resistimos como no movimento das águas que nos fortalece, mas também desestabiliza
São as forças da tradição e d@ nov@
Dificuldade de comunicar com afeto,
Tolerar é pacto ou compreensão?
Experiência prática, erros, confusão.
Aprendizado na ação. 
É o nosso Ritual da Resistência.
Fortalecemos para desestabilizar, confundimos para desconfundir.
Lutar cuidando de nossa saúde mental.
Quanta ansiedade, quanto mais se pensa é louco e louco fica se pensa pouco.
Não somos histéricas, resistimos...
Pois a sua boa educação me faz mal, mal educada.
Feminino, amor, diversidade, queremos liberdade!
Roda de mulheres, linda roda, lindas belas trans mulheres.
O tempo, a têmpera, amada presença.
Tempera 
Negraluz, as águas, mãe.
Se tentam nos tirar a potência, com a potência criativa atacaremos.
Okuparemos
É por re(ex)istir. 
- Denunciamos e repudiamos o desmonte das políticas públicas de cultura em âmbito federal, como os editais da Funarte, entre eles o Myriam Muniz (teatro), Klaus Viana (Dança) e Artes na Rua (circo, dança e teatro) e o programa Pontos de Cultura, que não tiveram continuidade em 2017. - Denunciamos e repudiamos o fim das reuniões do colegiado setorial de teatro, ligado ao Conselho Nacional de Política Cultural (CNPC), cujas reuniões deixaram de acontecer no ano de 2017.
- Repudiamos a reintegração do policial militar Marcelo Coelho, julgado pela Justiça Militar pelo assassinato da artista de rua Lua Barbosa, à Polícia Militar do Estado de São Paulo. A RBTR reitera “A impunidade é mais dolorosa que a morte!”.
- Não nos calaremos frente às práticas de censura contra a Mostra Cena Vermelha de Osasco e todas as violências contra @s trabalhador@s e ocupantes das ruas. Construímos uma carta-modelo da RBTR, de apoio aos grupos que fazem arte de rua, pela liberdade de expressão, contra a censura, com base no artigo 5º da Constituição Federal. 
- Repudiamos o desmonte de políticas culturais consolidadas na cidade de São Paulo: cortes nas oficinas culturais nos CEUS e outros equipamentos (Programas Piá e Vocacional), o desmonte da Escola Municipal de Iniciação Artística (EMIA), a diminuição em 30% dos recursos destinados ao Programa VAI (política que busca incentivar a autonomia da juventude periférica), a suspensão do Programa Aldeias (que fortalece aldeias indígenas existentes na cidade), os cortes nos programas de fomento a grupos culturais (teatro, dança, circo, cultura digital, periferia), os atrasos de pagamento e abandono aos agentes comunitários de cultura, e a precarização do trabalho nas Fábricas de cultura no estado de São Paulo;
- Parelheiros foi sede para nosso encontro, região imensa ao extremo sul da cidade de São Paulo, na qual situam-se as duas maiores Áreas de Proteção Ambiental do município, além das aldeias Guarani Krukutu e Tenondé-Porã, da Nação Guarany, área rural de difícil acesso, que conta com 50 mil habitantes e índices altíssimos de violência. O único equipamento que o poder público destina à cultura é o CEU Parelheiros, que, à revelia do projeto inicial, foi construído sem teatro. Apoiamos o Fórum de Cultura de Parelheiros na luta pela implantação da CASA DE CULTURA, que apesar de ter sido construída em 2009, por motivo desconhecido, o edifício nunca foi usado para os devidos fins – ao contrário: até 2015, a comunidade cultural local nunca soube de sua existência, uma parede dividiu o edifício, metade foi entregue ao Conselho Tutelar e a outra metade permanece abandonada até hoje, com janelas quebradas e fios elétricos subtraídos. Exigimos o encaminhamento adequado e atenção merecida à Cultura da Região.

São Paulo à Venda. Há Venda São Paulo.  
Liberdade
Cidade à Venda
Diversidade
Cidade com Venda
Comicidade
Cidade sem renda
Cidade linda pra quem?
Pra quê?
Pra comer ração humana?
Pra derrubar prédio com pessoas dentro?
Come Cidade
Devora o que te engole,
Vomita as migalhas destinadas à Cultura
Não pedimos esmolas, trabalhamos!
E exigimos que os frutos da luta do nosso trabalho sejam cumpridos; nutridos, acolhidos.  
Se querem nos calar a força, com força diremos não: A Nossa arte não vai se calar. Nossa arte é o grito d@s oprimid@s/ d@s que estão à margem, não iremos nos calar!

Carta-manifesto construída coletivamente com muitas mãos. Comum às mãos.

Dezembro de 2017 – Parelheiros – São Paulo  

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